Ele quase não viu a senhora, com o carro parado no acostamento. Chovia forte e já era noite.
Mas percebeu que ela precisava de ajuda. Assim, parou seu carro e se aproximou.
O carro dela cheirava a tinta, de tão novinho. Mesmo com o sorriso que ele estampava na face, ela ficou preocupada. Ninguém tinha parado para ajudar durante a última hora.
Ele iria aprontar alguma? Não parecia seguro, parecia pobre e faminto.
Ele pôde ver que ela estava com muito medo e disse:
— Eu estou aqui para ajudar, madame, não se preocupe. Por que não espera no carro, onde está quentinho? A propósito, meu nome é Renato.
Bem, tudo que ela tinha era um pneu furado, mas para uma senhora de idade avançada era ruim o bastante.
Renato abaixou-se, colocou o macaco e levantou o carro. Logo ele já estava trocando o pneu. Mas ficou um tanto sujo e ainda feriu uma das mãos. Enquanto apertava as porcas da roda ela abriu a janela e começou a conversar com ele. Contou que era de São Paulo e que só estava de passagem por ali e que não sabia como agradecer pela preciosa ajuda. Renato apenas sorriu enquanto se levantava.
Ela perguntou quanto devia. Qualquer quantia teria sido muito pouco para ela. Já tinha imaginado todos as terríveis coisas que poderiam ter acontecido se Renato não tivesse parado e ajudado.
Renato não pensava em dinheiro, aquilo não era um trabalho para ele. Gostava de ajudar quando alguém tinha necessidade e Deus já lhe havia ajudado bastante. Este era seu modo de viver e nunca lhe ocorreu agir de outra forma. E respondeu:
— Se realmente quiser me pagar, da próxima vez que encontrar alguém que precise de ajuda, dê para aquela pessoa a ajuda de que ela precisar.
E acrescentou:
— E lembre-se de mim.
Esperou até que ela saísse com o carro e também se foi. Tinha sido um dia frio e deprimente, mas ele se sentia bem, indo para casa, desaparecendo no crepúsculo.
Alguns quilômetros abaixo a senhora parou seu carro num pequeno restaurante. Entrou para comer alguma coisa. Era um restaurante muito simples, e tudo ali era estranho para ela.
A garçonete veio até ela e trouxe-lhe uma toalha limpa para que pudesse esfregar e secar o cabelo molhado e lhe dirigiu um doce sorriso, um sorriso que mesmo os pés doendo por um dia inteiro de trabalho não pôde apagar.
A senhora notou que a garçonete estava com quase oito meses de gravidez, mas ela não deixou a tensão e as dores mudarem a sua atitude.
A senhora ficou curiosa em saber como alguém que tinha tão pouco, podia tratar tão bem a um estranho.
Então se lembrou de Renato.
Depois que terminou a sua refeição, e enquanto a garçonete buscava troco para a nota de cem reais, a senhora se retirou.
Já tinha partido quando a garçonete voltou.
A garçonete ainda queria saber onde a senhora poderia ter ido quando notou algo escrito no guardanapo, sob o qual tinha mais 4 notas de R$ 100.
Existiam lágrimas em seus olhos quando leu o que a senhora escreveu. Dizia:
— Você não me deve nada, eu já tenho o bastante. Alguém me ajudou hoje e da mesma forma estou lhe ajudando. Se você realmente quiser me reembolsar por este dinheiro, não deixe este círculo de amor terminar com você. Ajude alguém.
Bem, havia mesas para limpar, açucareiros para encher e pessoas para servir, e a garçonete voltou ao trabalho.
Aquela noite, quando foi para casa cansada e deitou-se na cama, seu marido já estava dormindo e ela ficou pensando no dinheiro e no que a senhora deixou escrito.
Como pôde aquela senhora saber o quanto ela e o marido precisavam daquilo? Com o bebê que estava para nascer no próximo mês, como estava difícil!
Ficou pensando na bênção que havia recebido, deu um grande sorriso, agradeceu a Deus e virou-se para o marido que dormia ao lado, deu-lhe um beijo macio e sussurrou:
— Tudo ficará bem. Eu amo você, Renato!
O mundo, com certeza, seria melhor se todas as pessoas, ao invés de somente reclamar, fizessem algo para alguém que precise sem esperar nada em troca. Pense nisso!
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