"...humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte - e morte de cruz!" (Fl 2,8)
Era uma vez um maravilhoso jardim, situado bem no centro de um grande campo. O dono costumava passear pelo jardim, ao sol do meio dia.
Um esbelto bambu era, para ele, a mais bela e estimada de todas as árvores e plantas de seu jardim. Ele, bambu, crescia e se tornava cada vez mais lindo. Ele sabia que seu senhor o amava e que ele era sua alegria.
Um dia, o dono, pensativo, aproximou-se de seu bambu. Num sentimento de profunda veneração, o bambu inclinou sua cabeça imponente.
O senhor disse a ele:
— Querido bambu, eu preciso de ti.
O bambu estava feliz. Parecia ter chegado a grande hora de sua vida. E ele respondeu baixinho:
— Senhor, eu estou pronto. Faze de mim o uso que quiseres.
— Bambu… - a voz do senhor era grave. - Bambu, só poderei usar-te se eu te podar.
— Podar... a mim, senhor, por favor, não faças isso! Deixa a minha bela figura. Tu vês como todos me admiram!
— Meu bambu amado… - a voz do senhor tornou-se ainda mais grave. - Não importa que te admirem ou não. Se não te podar, não posso usar-te.
No jardim tudo ficou silencioso. O vento segurou a respiração. Finalmente, o lindo bambu se inclinou e sussurrou:
— Senhor, se não me podes usar sem podar, então... Faze comigo o que queres!
— Meu querido bambu, devo cortar também as tuas folhas!
— Ó senhor, se me amas, preserva-me de tal mal! Podes destruir minha beleza, mas, por favor, deixa as minhas folhas!
— Não te posso usar, se não tirar também as folhas!
O Sol escondeu-se atrás das nuvens. Umas borboletas afastaram-se assustadas. O bambu, trêmulo, à meia voz, disse: "Senhor, corta-as!"
— Ainda não basta, meu querido bambu. Devo cortar-te pelo meio e tomar também o coração. Se não faço isto, não posso usar-te.
— Por favor, senhor - disse o bambu - Eu não poderei mais viver... Como viver sem o coração?!...
— Devo tirar-te o coração, caso contrário não posso usar-te.
Então, o bambu inclinou-se até o chão e disse: Senhor, corta... Corta e divide. Reparte...
O Senhor desfolhou o bambu. Decepou seus ramos. Partiu-o em duas partes. Tirou-lhe o coração. Depois, levou-o para o meio do campo ressequido, a uma fonte onde brotava água fresca. Lá, o senhor deitou cuidadosamente o seu querido bambu no chão. Ligou uma das extremidades do tronco decepado à fonte e a outra ele levou até o campo.
A fonte cantou suas boas-vindas. As águas cristalinas se precipitaram alegres pelo corpo despedaçado do bambu, correram sobre os campos ressequidos que por elas tanto haviam suplicado.
Ali, plantou-se o trigo, o arroz, o milho... Os dias se passaram. A sementeira brotou, cresceu e... veio o tempo da colheita.
Assim, o tão maravilhoso bambu de outrora, em seu aniquilamento e humildade, transformou-se numa grande bênção.
Quando ele era grande e belo, crescia somente para si e se alegrava com sua própria beleza.
No seu aniquilamento, ele se tornou o canal do qual o senhor se serviu para tornar fecundas as suas terras. E muitos, muitos homens viviam desse tronco de bambu.
Que tipo de "bambu" somos nós? Será que somos o bambu bonito, lindo, esbelto, grande, mas que cresce só para si e fica se admirando? Ou somos o bambu que se deixa podar pelo Senhor, aniquilando-se, doando-se e tornando-se uma fonte de vida para muitos? Pense nisso.
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