“...ela lançou mais do que todos... ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver...” (Mc 12, 41-44)
Era uma vez... um certo rei que saiu na sua carruagem dourada a fim de percorrer a terra e observar as necessidades de seus súditos para poder satisfazê-las. Em um dado momento, veio ao seu encontro um mendigo, mal vestido e todo coberto de feridas. À beira da estrada, o velho gesto da mão estendida, prolongado no ar puro da manhã, a comovente súplica do olhar.
O rei era um homem de grandes posses, de infinita ternura e também de imensa sabedoria. Na sua opinião, ninguém é tão pobre que não tenha algo a dar, e ninguém é tão rico que nada tenha a receber. Por isso, ele disse ao mendigo, ao vê-lo de mão estendida:
— A minha esmola nascerá de sua própria generosidade, meu amigo. Eu multiplicarei por mil o que você me der. Apresente-me um dom de sua pobreza para que eu transforme em doação múltipla de minha riqueza.
Houve uma hesitação e surpresa por parte do mendigo. Ele não sabia o que fazer. Entretanto, o soberano esperava. Agora era o rei que estendia o braço, pedindo alguma coisa ao mendigo.
Então, o pobre homem enfiou a mão no bornal cheio de trigo. Pensou em dar um punhado desse cereal. "Mas o que o rei fará com estes grãos? Irá jogá-los fora, com certeza", pensou. Contudo, um punhado de trigo representava quase meio pão para saciar a sua fome. E o mendigo, ao pensar nisso, pegou só um grão de trigo, apenas um mísero grão de trigo, e estendeu para o rei.
O rei aceitou, sorrindo, aquela diminuta oferta. Depois, mandou que o mendigo abrisse novamente o bornal e nele jogou de volta o grão que acabara de receber. O pobre homem seguiu com os olhos atônitos a trajetória de seu grão e olhou dentro da sacola, ao vê-lo cair lá.
Lá estava, brilhando muito, no meio dos outros grãos comuns, uma pequena pepita de ouro. Num relance, o mendigo compreendeu o que tinha acontecido. Seu trigo ofertado ao rei, tinha se transformado em ouro ao ser-lhe restituído. Freneticamente ele mergulhou de novo a mão direita no bornal e, logo a seguir, a esquerda, retirou-as cheias de trigo e apresentou-as ao rei. Mas era tarde, a carruagem partia.
— Espere, espere! Eu posso dar mais, majestade! Eu posso dar tudo o que tenho no bornal!
Mas a carruagem não parou. O rei não voltou. E o mendigo ficou chorando no meio da estrada com as duas mãos cheias de trigo, dizendo entre soluços, num arrependimento tardio:
— Ah! Por que eu não dei tudo? Por que eu não dei tudo?
Reflexão — Muitas pessoas têm muito a oferecer à comunidade, à sociedade, aos irmãos, e não o fazem. Têm medo de perder e, numa vida de avareza, mediocridade e egoísmo acabam fechando-se em si mesmas.
A oferta da pobre viúva no templo (Mc 12,41-44) nos mostra até onde deve ir nossa doação. E Jesus, na parábola dos talentos (Mt 25,14-30), alerta-nos que os dons devem ser postos a serviço. Senão, se perdem...
E você, que tipo de mendigo é? Você tem dado só um grão de trigo, ou muito mais? O que você tem feito com seus talentos? Pense nisso...
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