“Aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra” (Jo 8, 7).
E, dizem, Jesus, depois de proferir esta verdade, acrescentou: “Mãe, para a senhora não vale!”. Jesus estava diante de uma mulher “apanhada” em adultério. E estava, também, diante de um dilema: se mandasse apedrejar, seria acusado de não ter sentimento. Se dissesse para não apedrejar, estaria contrariando a lei de Moisés. E Jesus, então, diz: “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”. E o evangelista afirma que os acusadores foram “saindo de fininho”.
Mas, hoje, a coisa é diferente. Ninguém pergunta nada. Todos começam a atirar as pedras. Todo mundo virou pecador público, virou “vidraça”. Os pais são reféns dos filhos, os professores são reféns dos alunos, o bispo é refém dos padres, os padres são reféns dos leigos. O mundo se transformou numa imensa penitenciária. Ao menor deslize... está condenado.
A imprensa vigia mas não se vigia. Os jovens cobram mas não se cobram. Não é raro a gente ouvir: “eu tenho o fulano nas minhas mãos”. Uma verdadeira covardia. Usa-se e abusa-se das pessoas como se fossem objetos. E ninguém diz nada.
E o que é pior: quem mais acusa é quem mais deve. Geralmente se faz de vítima. Com cara de “santo”, ou cara de “árvore”, na maior desfaçatez ou “cara de pau”.
Verdadeiros “anjos de candura”, “santinhos”, injustiçados e molestados. Conheço a história de um moleque de nove anos que foi à casa do padre, às dez da noite, pedir um copo de água, sem estar com sede.
“Sorria, você está sendo filmado!” Tudo está sendo filmado. Não sei se repararam que o BBB perdeu a graça. O Big Brother perdeu para a concorrência. Hoje, qualquer moleque imberbe (e, aliás fazem questão de deixar os poucos fios de barba para mostrar que são homens) se julga no direito de acusar o pai, a mãe, o superior.
Aonde vamos parar? Até quando seremos reféns? Privacidade parece coisa do passado. A Internet está aí para nos mostrar e para revelar coisas que são íntimas, o celular tem a capacidade de nos encontrar, mesmo que estejamos na Amazônia ou na Patagônia.
Câmeras espalhadas por todo lado, canetas-gravadores, nem o confessionário escapa dos riscos de se revelar os pecados de alguém. Sigilo virou “coisa de museu”. Isto até me faz lembrar daquela velha história, dos tempos da brilhantina, isto é, do banho de bacia ou do telefone de manivela: um delegado de uma cidadezinha do interior, sabendo que o criminoso, depois do assassinato, havia fugido para a cidade vizinha, usando o código Morse, pediu a seu colega, também delegado: “Prenda João da Silva e guarde sigilo!”. Dois dias depois, a resposta, também via Morse: “João da Silva preso. Sigilo não foi encontrado”.
É o que acontece hoje: o sigilo não está sendo guardado.
Dom Paulo Sérgio Machado
Bispo Diocesano
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