PARÓQUIA SÃO SEBASTIÃO - JAÚ

Palavra do Bispo

São Carlos Borromeu e as Vocações - Junho de 2012

Quem conhece a história de vida de São Carlos Borromeu sabe que ele foi um grande incentivador das vocações e os primeiros seminários foram fruto de sua preocupação com a formação dos padres.

O Concílio de Trento (1545 a 1563) teve uma grande influência do então Cardeal Carlos Borromeu que era, não apenas sobrinho do Papa, mas também teve uma grande participação na reforma promovida pelo referido Concílio.

Muitas vezes, meus irmãos bispos ficam admirados com o número de seminaristas de nossa Diocese e eu respondo: São Carlos sempre foi um celeiro de vocações. Foi uma das poucas dioceses que não fecharam o seminário na época do pós-concílio Vaticano II, quando se instalou uma grande crise nos seminários. A Diocese conta hoje com 150 presbíteros, entre diocesanos e religiosos. O clero de São Carlos já ofereceu nove padres para o episcopado. Contamos hoje com dezesseis seminaristas no seminário menor e propedêutico, vinte e três na filosofia e trinta e dois na teologia. Neste tempo pascal, estão sendo ordenados sete novos presbíteros para o serviço na nossa Igreja Particular. Uma bênção de Deus e também fruto de um intenso trabalho vocacional.

Não podemos nos acomodar quando o assunto é vocação. E necessário buscar caminhos para formar os padres do futuro, abertos à realidade que aí está, caracterizada por mudanças profundas e rápidas. O mundo está mudando e, com ele, a Igreja. Claro que sempre fiel a Jesus Cristo, mas, também, atenta aos sinais dos tempos.

O tema do Dia Mundial de Oração pelas Vocações deste ano foi “As vocações, dom da caridade de Deus”. De fato, é Jesus mesmo que nos recomenda pedir ao Senhor da messe que envie operários para a Sua messe. A vocação é dom de Deus, isto é, é Deus que chama. Não é a pessoa que se oferece. Deus, através do Bispo, chama aqueles que serão os pastores de seu rebanho. É interessante observar o ritual das ordenações quando se refere ao chamado. Normalmente é o Reitor que pede a ordenação. Não é o candidato. “Reverendíssimo Pai, a Santa Igreja pede que ordenes presbítero este nosso irmão”. Tudo isso nos reporta à famosa e conhecida palavra de Jesus: “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi”.

Quando o homem interfere na obra da criação, ele acaba provocando o caos. Aquecimento global, mudanças climáticas, erosões, tsunamis... são fruto da interferência humana na ordem disposta por Deus. Também no campo das vocações, quando o homem interfere no projeto de Deus, ele acaba atrapalhando, ao invés de ajudar.

Na mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, está bem claro: “O Senhor chama sempre, mas muitas vezes nós não ouvimos. Estamos distraídos por muitas coisas, por outras vozes mais superficiais”, diz o Papa. Falta a escuta de Deus. A vocação sempre foi um “mistério”. Desde o chamado de Abraão, passando pelos profetas, chegando aos apóstolos. O que conta é a lógica divina, não a humana. Quando tudo indicava que Jesus fosse a Jerusalém – onde estavam os doutores –, Ele foi a Cafarnaum – onde só havia pescadores. E ali chamou os doze. Na lógica humana, o anjo Gabriel deveria se dirigir a um palácio para chamar uma rainha para ser a mãe de Jesus. No entanto, ele vai à casa de Joaquim e Ana – um casal desconhecido – e ali anuncia a Maria a escolha para ser a mãe de Jesus.

Já o profeta Isaías anunciava “Meus caminhos não são os vossos caminhos”. Deus pensa diferente de nós. Ele continua chamando. Por isso, precisamos estar atentos para “não deixar passar o trem da história” e não “atrapalhar o projeto de Deus”.

Dom Paulo Sérgio Machado

Bispo Diocesano