No linguajar de tropeiro, o boi de piranha é aquele que é “sacrificado” para dar passagem à boiada. Com punhaladas, o sangue do boi vem à tona e atrai as piranhas. Enquanto o boi é atacado pelas piranhas, os outros bois (a boiada) atravessam o rio.
O mesmo está acontecendo com a Igreja Católica. Ela se transforma hoje em “boi de piranha” de uma sociedade permissiva em que os mesmos que a acusam são aqueles que pregam qualquer liberdade e justificam tudo em matéria de sexo. Não é o que vemos na mídia? Não é o que ensinam as novelas? Por que essa obsessão em torno da pedofilia? Será, por acaso, que este é o único pecado? E a pedofilia é uma doença que só atinge os padres? E os outros? Cadê os outros?
Na verdade, os acusadores não estão preocupados com as vítimas. O que realmente querem é atacar a Igreja Católica. No final das contas, a impressão é de que a única culpada desta triste situação é a Igreja Católica e sua moral sexual. Chegam até a insinuar que a culpa é do celibato dos padres. Associar a pedofilia ao celibato é pura má fé. Uma coisa é totalmente independente da outra. Um pedófilo pode se esconder tanto por baixo do sacerdócio quanto por baixo do casamento.
E tanto é verdade que o alvo é a Igreja Católica que, segundo afirmam, o principal culpado é o Papa. O demônio e seus seguidores sabem que, atacando o pastor, dispersam-se as ovelhas. A acusação é tão infundada quanto acusar o Presidente Lula pelos pedófilos brasileiros. Nada a ver. Com efeito, se levarmos em conta que hoje existem cerca de 500 mil sacerdotes diocesanos e religiosos – o que parece muito, mas o número fica pequeno se considerarmos que há 1 bilhão e 100 milhões de católicos no mundo –, haveremos de convir que é grande a complexidade, dada a diversidade de culturas, de línguas e de costumes.
Outro dado sintomático é que o maior veiculador das notícias sobre a pedofilia na Igreja Católica é a Rede Record de Televisão, de propriedade do “bispo” Edir Macedo. Seria mera coincidência? Não está a Igreja Universal tirando a atenção de suas falcatruas financeiras para atacar a Igreja Católica? Não seria ela a responsável pelo “boi de piranha”?
Que a Igreja deve ser considerada “pecadora” é uma espécie de dogma indiscutível da cultura mundana. E, como a Igreja Católica está presente em todas as épocas, envolvida nos acontecimentos de todos os séculos, ela se presta a ser onerada de todo débito e de toda culpa.
Interessante observar que, na linguagem cristã, fala-se sempre de “Igreja santa” e nada que nos faça acreditar em uma “Igreja pecadora”. A adjetivação da igreja foi sendo enriquecida progressivamente: no símbolo dos apóstolos é chamada unicamente de “santa”; nas formas ocidentais mais recentes, “santa” e “católica”; nas Igrejas orientais, “una”, “santa” e “católica”; enfim, com o credo niceno-constantinopolitano, chega-se às quatro notas clássicas: “una”, “santa”, “católica” e “apostólica”.
Todas as dúvidas e contradições são eliminadas, entende-se que os membros da Igreja pecam, mas enquanto traem a Igreja: a Igreja não é, portanto, sem pecadores, mas sem pecado. “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”, disse Jesus no célebre trecho de Mateus: a Igreja é, portanto, Sua obra, ou melhor, é Sua. Por isso, “as portas do inferno não prevalecerão sobre ela” (cf. Mt 16, 18).
E para confirmar esta afirmação, poderíamos lembrar as palavras de Napoleão Bonaparte, que desejava dominar o mundo e, um dia, disse ao Cardeal de Paris: “Nós vamos destruir a sua Igreja”; ao que o Cardeal respondeu: “O senhor não conseguirá”. E, diante da insistência do imperador, voltou a afirmar: “O senhor não conseguirá, pois nem nós conseguimos”.
De fato, a Igreja é divina. Se fosse humana, já teria desaparecido!
Dom Paulo Sérgio Machado
Bispo Diocesano
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