“Eis que vos anuncio uma boa nova, que será motivo de alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje na cidade de Daví um Salvador, que é o Cristo Senhor! Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e colocado numa manjedoura” (Lc 2, 12)
Queridos irmãos e irmãs,
Estamos hoje no terceiro Domingo do Advento, chamado em Latim, “Gaudete”, que significa “Alegrai-vos”!
É este convite à alegria, a tônica da Celebração deste domingo, pois está presente na Antífona Inicial, nas orações e também na Liturgia da Palavra, especialmente na segunda leitura. É também esse mesmo convite que, na noite do Natal, o Anjo fará aos pastores em Belém! Assim sendo, gostaria de dirigir-lhes nestes últimos dias de preparação ao Santo Natal, algumas reflexões que, espero, ajudem a bem predispor nossos corações a acolher o Senhor “que já está próximo”!
Diz o Apóstolo Paulo, em seu hino Cristológico, na Carta aos Filipenses: “Sendo Ele de condição divina, não se apegou à sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens.” (Fl 2, 6-7) e, na Carta aos Gálatas: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de uma mulher e submetido à Lei, a fim de remir os que estavam sujeitos à Lei, para que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4, 4-5).
O fundador da nossa Ordem Premonstratense, São Norberto, logo após sua conversão, decidindo solicitar ao seu bispo a ordenação sacerdotal, manifestou claramente querer assumir “a veste e o ornamento”, como diz sua antiga biografia (Vita B): “Ele escolheu assumir a veste do homem novo e seu ornamento ao mesmo tempo, a primeira com o hábito religioso, este último com a dignidade sacerdotal”. E assim ele o fez e, imediatamente após sua ordenação, retirou-se por quarenta dias em oração e jejum (a exemplo de Cristo após o Seu Batismo) num mosteiro Beneditino para, sob a orientação do Abade e dos seus monges, preparar-se bem para sua nova vida e missão.
Da mesma forma, ao discernir, na noite de oração passada na Capela de São João Batista, no Vale de Premontre, que esse era o lugar que o Senhor lhe destinara, (após ter tido uma visão de uma multidão vestida de branco acorrendo em direção à Cruz). Ele, então, depois de muitas peregrinações e pregações, arrebanhando companheiros, por fim, reuniu em Premontré cerca de 40 clérigos e muitos leigos seguidores, para pregar-lhes um “retiro de Consagração Religiosa”, um grande retiro espiritual vivido durante todo esse tempo de Advento, em preparação ao nascimento de Cristo e ao nascimento da Ordem. Por fim, após essas suas constantes, agudas e profundas meditações, exultantes e jubilosos, Norberto e seus companheiros professaram “a conversão dos costumes e a vida de comunhão segundo o Evangelho de Cristo e a Instituição Apostólica” (dispondo-se a viver segundo o exemplo da Comunidade dos Apóstolos, a Igreja Primitiva de Jerusalém), no Natal de 1.121, “na casa de sua pobreza”, à luz do despojamento do “Menino envolto em faixas e colocado numa manjedoura”!
Parece-me clara a intenção de São Norberto na escolha desse dia, pois como ele há muito decidira assumir a “veste e o ornamento”, a primeira significando o despojamento e a pobreza da vida penitente, e o segundo significando a dignidade sacerdotal, o que parece indicar seu propósito de vida, e que ele quer legar a seus seguidores: identificação com o movimento da Kénosis (o “aniquilamento”) e da Elevação de Cristo que “aniquilou-se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo... por isso Deus O exaltou soberanamente...”. O Mistério do Natal proclama isso à evidência! E esse Mistério, Norberto quer assumir como projeto de vida para si e para os seus discípulos e seguidores!
A Virgem Mãe envolve em faixas Aquele que se despojou de Sua Majestade Divina e se irmanou e solidarizou com nossa pequenez, humildade e humanidade! “Deus enviou Seu Filho nascido de mulher, nascido debaixo da lei” (de nossa fragilidade e finitude humanas), “para remir os que estavam debaixo da lei, para que recebêssemos a adoção filial”!
Parece-me ser esta a mística, reverente, reconhecida e grata escolha de São Norberto: a exemplo do Filho de Deus, descer aos pequenos, degradados, despojados e caídos, para elevá-los à glória e ao ornamento do Filho de Deus, pela adoção filial, através da mediação da Virgem Mãe. Talvez nisso também nós possamos ver a mais tardia interpretação de uma comunidade da Ordem, de que Norberto teria recebido das mãos de Maria Santíssima seu hábito branco, sendo que, para Norberto era clara e evidentemente essa veste, o sinal de seu despojamento de penitente, como um caminho de transfiguração, de ressurreição, a exemplo da “Kénosis” de Cristo que o conduziu à Sua exaltação.
Não devemos ignorar três coisas que Norberto recomendava especialmente. Dia a dia, repetia com frequência que essas deveriam ser observadas pelos seus filhos espirituais: a limpeza do altar e nos mistérios divinos, a correção dos excessos e negligências, a hospitalidade e o cuidado dos pobres. No altar, mostra-se a fé e o amor para com Deus; Na purificação da consciência, o cuidado de si mesmo; na hospitalidade aos convidados e aos pobres, o amor ao próximo.” Nessas palavras de Norberto vemos claramente: a própria exaltação, pelo despojamento e pela cruz (morte do homem velho com suas concupiscências e afetos desordenados, pela correção dos excessos e negligências), e a exaltação dos irmãos/ãs (na hospitalidade aos pobres, no amor ao próximo).
Evidentemente que, a limpeza, o respeito, o “ornamento” que Norberto exigia no altar, nada tinham a ver com luxo e ostentação, com vaidosa e mundana preocupação com vestes e aparência, mas com a missão apostólica e sacerdotal: restaurar a dignidade e santidade de filhos de Deus naqueles que estivessem “envoltos nas faixas” de uma humilhada e mesmo aviltada humanidade, sendo assim arautos e propagadores de transfiguração e ressurreição, a começar pela própria vida transfigurada e exaltada através da Kénosis, da Cruz, como já dizia outro grande seguidor de Cristo, despojado como Norberto e a ele anterior, São Bruno, fundador da Cartuxa: “Per Crucem ad Lucem!”, que é, aliás, o lema da Abadia São Norberto de Jaú. A Liturgia e a Espiritualidade do tempo de Norberto já tinham isto bem claro: é pela Kénosis, pelo despojamento, pela Manjedoura do Presépio e pelo Calvário e a Cruz que se chega à Luz gloriosa da Ressurreição, da qual Norberto quer ser arauto e propagador!
À luz dessas reflexões e interpelações, queridos irmãos e irmãs, paroquianos de uma Paróquia marcada pela espiritualidade Norbertina, neste rico tempo de Advento, neste litúrgico tempo de Graça e Salvação, em preparação última para o Santo Natal de Cristo, bem como para um novo Natal em nossa Paróquia, gostaria de convidar a toda a nossa comunidade Paroquial, à Luz do Mistério do Natal do “Menino envolto em faixas e posto numa manjedoura”, e que, mais tarde, na consumação de Sua Missão Redentora, será também envolto em panos no Seu mais extremo despojamento, cravado em Sua Santa Cruz, e colocado no Santo Sepulcro, a nos prepararmos para que, pela Graça e Alegria de encontrarmos e acolhermos “o Menino envolto em faixas e colocado numa manjedoura”, que nos disponhamos a O seguir do Presépio à Cruz, pela elevação espiritual, numa vida livre e gloriosa de filhos(as) de Deus para todos nós, nossas famílias, e para os menores, mais humilhados e decaídos de nossos irmãos e irmãs, numa digna, coerente e frutuosa celebração e vivência do Mistério do Natal, despojando-nos dos “montes e colinas” do orgulho, da vaidade, da autossuficiência, preenchendo os “vales e depressões” de desânimo, abatimento, desesperança, e revestindo-nos do “manto das vestes da Salvação” (cf. Is 61, 10) d’Aquele que se revestiu da nossa pequenez, da nossa humanidade, da nossa pobreza, a fim nos revestir com a Sua Justiça, a Sua Santidade, a Sua Filiação Divina, possibilitando-nos, assim, experimentar a grande alegria de sermos visitados pela “Luz do Sol nascente”, que dissipa a noite, a escuridão do egoísmo, do desamor, da soledade, da desesperança,da tristeza, do pecado e da morte!
Achegando-nos à humildade do presépio e da manjedoura, peçamos a Maria Santíssima que prepare e predisponha nossos corações e nossos lares, quais humildes manjedouras, retirando as “palhas” mais ásperas e pontiagudas, substituindo-as por alvos e macios panos e faixas de humildade, de carinho, de acolhimento e de amor, para que o Menino-Deus-Salvador confortavelmente possa nascer, repousar e permanecer em nossos corações, em nossos lares, em nossa Paróquia!
Um Santo e Feliz Natal para todos!
Jaú, 17 de dezembro de 2023
Côn. Antonio Galvão de Campos Arruda Filho, O. Praem.
Pároco
Nota: aproveito para lhes dar uma importante informação:
Tanto no fim e início de semana do Natal, quanto nos da Passagem de Ano, temos em cada um desses momentos, DUAS CELEBRAÇÕES DE PRECEITO!
No Sábado 23/12 à noite (19:00 hs), e no domingo 24/12 DE MANHÃ (07:00 e 10:00 hs) a celebração é do 4º DOMINGO DO ADVENTO! Já no domingo à noite (19:00 hs) a Celebração é da VIGÍLIA DO NATAL! Para cumprir o Preceito da Participação dessas 2 Celebrações é necessário participar da Missa do Sábado (23) às 19 hs, OU de uma das duas celebrações da manhã do domingo (24/12 às 07:00 ou às 10:00 hs; e também participar da Santa Missa do Natal (ou a Vigília, no Domingo 24/12 às 19:00 hs, ou na segunda-feira 25/12 às 10:00 ou às 19:00 hs)!
Da mesma forma, no Sábado 30/12 à noite (19:00 hs), e no domingo 31/12 DE MANHÃ ( 07:00 e 10:00 hs) a celebração é da SAGRADA FAMÍLIA! Já no domingo à noite (19:00 hs) a Celebração é da VIGÍLIA DA SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS! Para cumprir o Preceito da Participação dessas 2 Celebrações é necessário participar da Missa do Sábado (30/12) às 19 hs, OU de uma das duas celebrações da manhã do domingo (31/12 às 07:00 ou às 10:00 hs; e também participar da Santa Missa da SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS (ou a Vigília, no Domingo 31/12 às 19:00 hs, ou na segunda-feira 1º/01/2024 às 10:00 ou às 19:00 hs)!
BOAS CELEBRAÇÕES A TODOS!!!