Chegamos a Sofonias, o 15º livro profético do Antigo Testamento. Este livro possui apenas três capítulos e foi escrito por volta de 663 a 612 a.C., tendo sua autoria atribuída ao próprio Sofonias – que quer dizer “Javé protege”, fazendo uma referência à proteção dada por Deus durante a opressão e a idolatria do reinado de Manassés.
Filho de Cusi – que significa “etíope”, isto é, negro, portanto filho de estrangeiros – Sofonias era judeu e viveu na mesma época em que viveram Naum e Habacuc. Profetizou durante o reinado de Josias, em torno de 640-620 a.C., na cidade de Jerusalém, Judá, reino do sul. Nessa época, o povo de Judá enfrentava dificuldades por causa do domínio assírio e Israel, reino do norte, já tinha sido conquistado por esse mesmo povo.
O profeta anunciou ao povo com clareza e o livro fala, essencialmente, sobre o Dia do Senhor, em que ele promoverá correção ao povo de Judá e aos moradores de Jerusalém. Inclusive o livro se inicia com “Oráculos do Senhor dirigidos a Sofonias" e termina dizendo "diz o Senhor". O Dia de Javé era entendido como uma intervenção de Deus na história, quando este vinga seu povo, decide seu destino e o salva como no êxodo. A memória do êxodo é muito viva em épocas de dominação estrangeira ou de estados autoritários.
O autor denuncia a concentração da riqueza nas mãos de poucos. Os oráculos contra as nações e os opressores apresentam o julgamento e o juízo de Deus contra aqueles que exploram e empobrecem o povo. Para incluir todas as nações, o profeta utiliza o esquema dos pontos cardeais: Filisteus (oeste), Moab e Amon (leste), Egito (sul) e Assíria (norte). No centro encontra-se Jerusalém, cidade rebelde, que também terá o julgamento. Aliás, Jerusalém é o ápice da crítica.
Sofonias traz grande desafio à nossa visão, muitas vezes superficial e ingênua, sobre a história. À primeira vista, quem triunfa são os ricos e poderosos, enquanto a maioria do povo empobrecido e enfraquecido vive em situação marginalizada, sem nenhum poder para transformar as situações. O profeta muda essa visão: o Deus justo, que ouve o clamor abafado e escondido dos pobres e fracos, levanta-se para fazer o julgamento que inverte a situação. Depondo os poderosos e exaltando os pobres, o Senhor mostra que a esperança vem justamente daqueles dos quais agora nada se espera. Deus, porém, está com eles, dando eficácia à sua luta pela justiça e, por meio dela, construindo um mundo novo, que já existe na fé e na esperança de todos aqueles que, embora dispersos nos diversos tempos e lugares, continuam sonhando com a chegada da justiça, que trará liberdade e vida para todos.
Assim, para o período de dominação babilônica, com destruição e exílio, Sofonias servirá como sinal de esperança naqueles tempos difíceis.
Como já havia acontecido em outras épocas, o Senhor tem misericórdia do povo, ouve o clamor dos fracos, levanta-se para fazer o julgamento, depondo os poderosos e exaltando os pobres. Dessa forma, é mantida a promessa de que " O Senhor, teu Deus, está no meio de ti como herói Salvador! Ele anda em transportes de alegria por causa de ti, e ele te renova seu amor. Ele exulta de alegria a teu respeito " (Sof 3,17)
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