Continuando nossa caminhada pela Bíblia, chegamos ao mais antigo dos livros proféticos. Amós é o terceiro dos doze profetas chamados menores – que recebem esse nome por serem os livros mais curtos da Bíblia hebraica e latina. Seu nome significa “carga” ou "carregador".
Amós era um cidadão de Técua (cerca de seis milhas ao sul de Belém, na tribo de Judá) que exerceu atividade durante o reinado dos reis contemporâneos Ozias, de Judá, e Jeroboão II, de Israel. Como o seu ministério se instaurou claramente no apogeu da prosperidade de Israel, deve ter-se prolongado pelo reinado de Jeroboão II (783-743 a.C.), em torno do ano de 750 a.C.
Amós foi boiadeiro e recolhedor de figos silvestres. À primeira vista, pode-se pensar que ele fosse um grande proprietário e que sua atividade profética pudesse ser em defesa de seus próprios interesses. Todavia, o mais provável é que Amós fosse uma pessoa pobre, com vários empregos, a serviço de outros para sobreviver: ora trabalhava como pastor, ora como vaqueiro, ora como agricultor, dependendo dos “bicos” que conseguia. Lembraria hoje o boia-fria que vive das oportunidades passageiras de trabalho. Nessa perspectiva, a palavra de Amós adquire outro sentido: torna-se denúncia de uma situação que gera a injustiça social e a pobreza do povo.
De estilo simples, porém criativo, o livro possui muitas metáforas chocantes, como a pressão do dever do profeta comparada ao rugir do leão, em 3,8. Apresenta três grandes partes: "O julgamento dos povos" (1,3-2,16); "Os discursos" (3,1-6,13); e "As visões" (7,1-9,8a). A conclusão (9,8b-15) é um acréscimo.
No tempo de Jeroboão II, rei de Israel, entre 783 e 743 a.C., o reino do norte conheceu relativa tranquilidade pelo fato de o império assírio estar ocupado com Damasco. Isso permitiu uma espécie de “milagre econômico”: Israel recuperou os territórios perdidos e houve uma fase de grande prosperidade, com muitas e luxuosas construções, aumento de recursos agrícolas, progresso da indústria têxtil e tinturaria. O livro de Amós confirma esse desenvolvimento e progresso, acompanhado de injustiças e contrastes sociais, corrupção do direito e fraude no comércio. A religião servia para tranquilizar a consciência da classe dominante, estimulando o sentimento de superioridade em relação a outros povos. A aliança com Deus tornou-se letra morta, celebrada no culto, mas sem qualquer influência na vida diária.
É dentro dessa situação que Amós começa a falar. Além de denunciar a situação de desigualdade social, ele aprofunda sua crítica, principalmente no que se refere à religião. Denuncia uma religião que é mera fachada para a injustiça e que acoberta um sistema desigual, já viciado pela raiz.
Amós viu que somente uma mudança radical de vida salvaria Israel (5,4-6.14s) e temia que ela não viesse. Só havia um meio de afastar aquela cólera, que se anunciava próxima: “Odiai o mal e amai o bem, estabelecei o direito à porta; talvez Javé, Deus dos Exércitos, tenha compaixão do resto de José” (5,15).
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