Dando prosseguimento ao nosso percurso pela Bíblia Sagrada, chegamos a Ezequiel, o quinto livro profético da Bíblia católico-romana.
O autor, cujo nome significa “Deus fortalece”, era, provavelmente, um membro da família sacerdotal dos zadoqueus, que se tornaram importantes durante as reformas de Josias (621 a.C.). Treinado para o sacerdócio durante o reinado de Joaquim, ele foi deportado para a Babilônia em 597 a.C., época do segundo cerco de Jerusalém, por volta de sua iminente e completa destruição – que coincidiu com a morte de sua esposa –, e estabeleceu-se em Tel-Abibe, situada no canal do rio Quebar, perto de Nipur. Seu ministério coincidiu brevemente com o de Jeremias. Partes do livro também foram, aparentemente, escritas após a destruição de Jerusalém.
A personalidade de Ezequiel reflete uma força mística. A proximidade de seu contato com o Espírito Santo, suas visões e a frequência com a qual a palavra do Senhor vinha até ele fornecem uma conexão entre os profetas extáticos mais antigos e os profetas e escritores clássicos. Suas experiências espirituais também anteciparam a atividade do Espírito Santo no Novo Testamento. A ele adequadamente pertence o título de “carismático”.
A mensagem de Ezequiel foi endereçada ao resto dos pervertidos de Judá exilados na Babilônia. Dois temas teológicos agem como um equilíbrio no pensamento do profeta. Na doutrina do homem, ele colocou a ênfase no dever pessoal. Por outro lado, ele enfatizou a graça divina no renascimento da nação. O arrependimento do remanescente fiel entre os exilados resultaria na recriação de Israel a partir dos ossos secos. O divino Espírito os estimularia a uma nova vida.
O livro está facilmente dividido em três seções: o julgamento de Judá (4-24), o julgamento das nações pagãs (25-32) e as futuras bênçãos pela aliança de Deus com o povo (33-48).
Quer a revelação profética seja apresentada simbolicamente em visões, sinais, ações de parábolas ou em fala humana, Ezequiel reivindica por eles o poder e a autoridade do Espírito Santo. Além disso, há inúmeras referências ao Espírito de Deus no livro. O Livro de Ezequiel pode quase ser caracterizado como “os Atos do Espírito Santo” no Antigo Testamento. Várias dessas referências merecem uma atenção em especial.
Em 11,5, o profeta afirma de forma autobiográfica que o Espírito do Senhor “apoderou-se” dele e lhe “disse”. O oráculo que segue é, desse modo, a Palavra de Deus nas palavras de Ezequiel, inspirado pelo Espírito Santo. O mesmo capítulo (11,24) apresenta o Espírito como ativo em uma visão: “Em seguida o espírito arrebatou-me e conduziu-me à Caldeia, em visão, pelo espírito de Deus, junto dos exilados”.
Talvez a situação mais bem conhecida da atividade do Espírito esteja no capítulo 37, a visão do vale dos ossos secos: “A mão do Senhor desceu sobre mim. Ele me arrebatou em espírito e me colocou no meio de uma planície, que estava coberta de ossos” (v.1). A visão subsequente relata o renascimento espiritual do restante do povo que estava, até então, no exílio.
Um aspecto final da ação do Espírito na vida do profeta é achado em 36,26: “Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo”. Não é somente um ato externo do Espírito o “apoderar-se” de alguém, mas também a profetizada experiência subjetiva da presença d’Ele dentro, tal como o profeta experimentou, de maneira inigualável, quando o Espírito “entrou” nele (2,2). Ezequiel antecipou a experiência da aliança do “novo nascimento”, o qual seria dado pelo Espírito.
#saosebastiaojau
• Leia outros textos