Formação Bíblica
31 Isaías: Profecia com Coragem
Depois de terem sido abordados os livros proféticos, vamos conhecer mais de perto quem foram esses corajosos anunciantes da Palavra de Deus e denunciantes da injustiça.
O mais citado e, provavelmente, maior profeta de Israel é Isaías.
Isaías viveu de 740 a 690 a.C., em Jerusalém. Nessa época, Israel, governado por Jeroboão e outros seis reis de menor importância, tinha se submetido ao culto pagão; Judá, sob Uzias, Jotão e Ezequias, manteve os valores religiosos aparentemente, mas, aos poucos, caiu num sério declínio moral e espiritual (3,8-26). Lugares secretos de cultos pagãos eram tolerados; o rico oprimia o pobre; as mulheres negligenciavam suas famílias na busca do prazer carnal; muitos dos sacerdotes e profetas tornaram-se bêbados que queriam agradar os homens (5,7-12; 18-23; 22,12-14). Vivendo a política de Judá a partir de dentro e estando ligado às cortes intelectuais do país, Isaías pôde falar e escrever com conhecimento e profundidade sobre o mistério de Deus e a realidade humana.
A partir de sua primeira visão do Templo (740 a.C.), responde ao chamado de Deus (6,8) e aceita a difícil missão de profetizar, atacando o luxo e os abusos sociais (1-5). Embora a este profeta pré-exílico se atribuam somente os primeiros trinta e nove capítulos do livro de Isaías, a tradição e os estudiosos reconhecem sua liderança literária e teológica entre todos os profetas. Com sua vida e pregação, inspirou os seus discípulos, surgindo então uma "escola isaiana".
O livro de Isaías contém 66 capítulos e pode ser dividido em três grandes partes:
- Capítulos 1 a 39: escritos pelo próprio profeta antes do exílio da Babilônia. Esses capítulos contêm a mensagem de Isaías, cuja preocupação central é a santidade de Deus, ou seja, só Deus é absoluto. Em meio a grandes mudanças políticas internacionais, o profeta condena a aliança com as grandes potências, mostrando que a nação só será salva se permanecer fiel a Deus e ao Seu projeto, onde a justiça é o valor supremo. Assim, proclama atrevidos e profundos oráculos (mensagens de Deus à comunidade) desmascarando as falsidades humanas, os abusos e as maldades dos chefes políticos (3,12), sacerdotes e juízes (5,23), ricos e damas da corte (1,21-23), povo e gente sábia (5,12-19). Descobriu e, assim, comunicou aos seus contemporâneos que o centro de relacionamento entre Deus e as pessoas, e a solução para os problemas humanos como a injustiça e as guerras, é a fé (1,21-26).
- Capítulos 40 a 55: escritos por um profeta anônimo, denominado Segundo Isaías, no período do exílio na Babilônia, apresenta uma mensagem de esperança e consolação. O fim do exílio é visto como um novo êxodo e, como no primeiro, Javé será o condutor e a garantia dessa nova libertação. Frequentemente ao longo do Segundo Isaías, Israel é denominado o "Servo de Javé". O Servo é um personagem misterioso que foi escolhido por Javé e cumulado do Seu Espírito (42,1). Os "Cânticos do Servo" apresentam um perfeito servo de Javé, que reúne o seu povo e é luz das nações, que prega a verdadeira fé, expia por sua morte os pecados do povo e é glorificado por Deus. O profeta fala ainda de uma nova ordem e estende a salvação de Deus a todas as nações (43,8-13).
- Capítulos 56 a 66: escritos por alguém da "escola de Isaías", denominado Terceiro Isaías. Esses capítulos apresentam uma coleção de oráculos anônimos que procuram estimular a comunidade que veio do exílio e se reuniu em Jerusalém com os que estavam dispersos. Condena os abusos que começam de novo a aparecer e mostra qual é o verdadeiro jejum (58,1-12) necessário para que haja novos céus e nova terra.
A tradição diz que Isaías foi martirizado durante o reinado de Manassés, filho de Ezequias. Mas, certamente, estava em paz por ter cumprido sua missão: “Aqueles que Deus protege, vivem; e entre eles, viverá o meu espírito: tu me curaste e me fizeste reviver. A minha amargura se transformou em paz, quando arrancaste a minha vida da tumba vazia e voltaste as costas para todos os meus pecados” (Is 38, 16-17).
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