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"Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão: 'Tomai cuidado com os doutores da Lei!'."
Mc 12,38a (32 TC-Ano B)
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Formação Bíblica

26 Eclesiastes: Busca de Satisfação na Vida

O quarto dos sete livros sapienciais do Antigo Testamento é o livro do Eclesiastes. Trata-se de reflexões e máximas, do gênero que hoje se chamaria "pensamentos". Parte da filosofia de que "tudo é vaidade" e seu tom docemente cético o distingue dos demais livros de seu tipo do Antigo Testamento.

O nome Eclesiastes foi “emprestado” da Bíblia Septuaginta e deriva do termo grego ekklesia (“assembleia”), sendo traduzido, normalmente, por “aquele que fala a uma assembleia”. O termo hebraico correspondente é cohelet, que significa “aquele que convoca uma assembleia”; é também nome próprio, provavelmente um nome literário ou acadêmico adotado pelo autor do texto. Assim, essa palavra tem sido traduzida como "pregador", “professor” e alguém que dirige uma reunião.

Tudo indica haver em Eclesiastes trechos escritos por outras pessoas, mas o autor do texto básico é um só: um mestre da sabedoria popular, geralmente considerado como sendo Salomão (cerca de 971 a 931 a.C.), que o teria escrito em Jerusalém, na sua velhice, tempo em que a Palestina era dominada pelo império dos Ptolomeus do Egito. Nessa época, a realidade da absoluta maioria do povo era dura, esmagada pelos tributos pagos ao império e à classe dominadora, e ainda explorada pelos comerciantes estrangeiros, sem nenhuma possibilidade de recuperar os próprios direitos.

Embora escrito em hebraico, não se pode dizer que os únicos destinatários do livro sejam os hebreus: nunca se emprega o nome de Deus associado com o pacto ou aliança; Israel é mencionado uma única vez. Apontado para a estupidez natural do homem e sua ignorância, o autor fala à humanidade toda, preparando o caminho para a sabedoria e a luz do Evangelho – sendo largamente citado em todo o Novo Testamento, inclusive por Jesus e seus discípulos.

Trata-se da experiência de um homem que é muito sábio e decide experimentar de tudo o que há na terra – ou, "debaixo do sol", expressão usada cerca de 30 vezes ao longo do livro. Ele quer descobrir se alguma coisa irá fazê-lo feliz, ou, como Jó, questiona se o bem e o mal têm sua recompensa aqui na terra. A resposta, como a de Jó, é negativa, pois ele estava buscando por satisfação aqui neste mundo. Como em outros livros sapienciais, o pensamento vai e vem, se repete e se corrige. O autor se mostra como homem de ciência – o livro faz declarações rigorosamente certas sobre fenômenos científicos – e de prazer; como fatalista e materialista. Não há um plano definido; mas se trata de variações sobre um tema único: a vaidade das coisas humanas, o perigo das armadilhas do materialismo. Temos aqui um penetrante realismo que, paradoxalmente, no fecho da obra, faz o autor deslizar de todas as vaidades enganosas e se firmar como o mais nobre tipo humano: o arrependido e o crente. O ensinamento divino revela-se nos últimos dois versículos do livro (12, 13-14). Eles dão a resposta às indagações de 1,13 e 2,3: “Em conclusão: tudo bem entendido, teme a Deus e observa seus preceitos, é este o dever de todo homem. Deus fará prestar contas de tudo o que está oculto, todo ato, seja ele bom ou mau”.

Dessa forma, podemos dizer que a mensagem do livro é que, separada de Deus, a vida é monótona e decepcionante. Pois, para o cristão, viver não é apenas existir “debaixo do sol”, mas “acima do sol”, “assentado, com Cristo, nos lugares celestiais”.

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