O próximo livro na Bíblia católica – e o segundo dos sete deuterocanônicos – é o livro de Judite, que recebe esse nome devido à personagem principal da história narrada, Judite – isto é, “mulher judia”.
Judite é uma jovem viúva, bela, sábia, piedosa e decidida, que vencerá o desânimo de seus compatriotas e o exército assírio. Após derrotar os reis vizinhos, o rei Nabucodonosor, da Assíria, para castigar os povos que não quiseram aliar-se a ele, manda Holofernes, um feroz general militar, para dominá-los. Holofernes vence os povos, destruindo suas cidades e santuários e chega perto do povo judeu. A pequena nação judaica enfrenta o possante exército de Holofernes, que devia submeter o mundo a Nabucodonosor e destruir todo culto que não fosse o de Nabucodonosor divinizado. Os judeus são cercados em Betúlia e, por falta de água, chegam quase a se render. É então que aparece Judite, que reprova os chefes da cidade pela sua falta de confiança em Deus, anuncia a intervenção do Senhor, depois reza, enfeita-se, sai de Betúlia e faz-se conduzir perante Holofernes. Utiliza contra ele a sedução e a astúcia e, ao ficar sozinha com o militar embriagado, corta-lhe a cabeça. Os assírios, tomados de pânico, fogem deixando seu acampamento entregue ao saque. O povo exalta Judite e se dirige a Jerusalém para uma solene ação de graças.
Conforme se percebe nesse livro, há textos que envolvem personagens e dados históricos de vários séculos, como também há fatos narrados que fazem referências a épocas distintas como a pré-exílica, a persa e a grega e que são narrados como se fossem de uma só época. Daí, conclui-se que não há nenhuma possibilidade de uma real fundamentação histórica do livro e que a intenção do autor não é a de escrever uma história ou narrar um fato histórico, e sim, transmitir uma mensagem para o seu povo: encorajar os judeus piedosos a permanecerem fiéis à lei e aos costumes de Israel.
Mesmo fictício, há passagens extremamente marcantes no livro de Judite, como a magnífica oração do capítulo 9, no meio da cativante narrativa da libertação de Betúlia.
O livro de Judite leva os leitores a pensar nas lutas que os judeus tiveram que sustentar pela sua fé, lutas essas que se tornaram particularmente agudas dois séculos antes da era cristã. É certamente por essa época que ele foi composto: em meados do século II a.C., durante a resistência dos Macabeus ou logo após. Entretanto, o livro deve ter sido escrito na Palestina e não foi conservado em seu texto hebraico – resta-nos apenas a sua tradução grega. O autor é ignorado, mas, provavelmente, pertence ao mesmo grupo que produziu os livros de Daniel, 1 Macabeus e a versão grega de Ester.
Ao final, a mensagem que fica é que Deus, através de seu povo, realiza a salvação, apesar de todas as oposições. Afinal, a salvação de Deus vem de onde menos se espera: do pequeno, do frágil, da mulher.
#saosebastiaojau
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