O livro de Tobias – ou Tobit, em latim, como é chamado em algumas traduções – tem esse nome por causa do velho Tobias, cujas virtudes maravilhosas são nele recordadas. É um dos sete livros deuterocanônicos, que aparecem apenas nas Bíblias católicas.
Uma das joias da literatura judaica, o livro de Tobias é escrito no gênero literário chamado de midraxe, que é a narração de um fato histórico com ênfase religiosa, isto é, na ação de Deus em defesa dos fiéis, realçando os aspectos edificantes e moralizantes dos fatos narrados, com o intuito de formar os leitores. O livro conta a estória de duas famílias judaicas aparentadas que se viram deportadas em Nínive e Ecbátana, respectivamente, onde hoje se situam o Iraque e o Irã. Ambas, sem culpa alguma de sua parte — pois se mantiveram numa fidelidade escrupulosa à Lei —, caíram no infortúnio. Então, a narrativa se desenvolve no melhor estilo de romance popular, não faltando suspense, aventura, romantismo e final feliz.
À primeira vista, a narrativa dá a impressão de ser rigorosamente histórica, pela abundância de pormenores acerca do tempo, dos lugares, das pessoas e dos grandes episódios da história comum da Assíria e de Israel entre 734 e 612 a.C. Mas essa exatidão aparente não deve iludir o leitor. A maior parte das informações não resiste à verificação crítica. Evidentemente, o autor só conhece de longe os reis de que fala e não viajou pelas regiões que descreve. Seu intento é unicamente conferir verossimilhança e autoridade ao livro, criando uma história edificante – que não se pode saber bem quando ocorreu – e que não se refere a todo o povo de Israel, mas apenas a uma família.
O autor do livro é desconhecido; entretanto, ele foi escrito, com certeza, em aramaico e depois do Exílio, numa data situada por volta de 200 a.C.
Com passagens em que revela grande devoção, extraordinária paciência e uma resignação perfeita à vontade de Deus, o velho Tobias é um verdadeiro espelho de um judeu justo – espelho esse que se pode aplicar a um cristão quase sem nenhuma transposição – durante os seus 102 anos de vida, coroados com um grande prêmio: ele morre feliz.
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