Dando continuidade aos livros históricos, vêm os livros I e II Crônicas. No texto hebraico, os dois livros de Crônicas eram, pelo visto, um só livro – ou rolo, dividido, mais tarde, para conveniência – e, juntamente com os livros de Neemias e Esdras, constituíam uma só obra, sendo chamados na tradição grega de Paralipômenos (“coisas deixadas de lado”, ou ainda “coisas transmitidas à parte”). Esse termo se deve ao conteúdo desses livros, considerado como complemento aos livros de Samuel e dos Reis. Realmente, os relatos dos livros das Crônicas retomam, em grande parte, os relatos dos livros de Samuel e dos Reis, com outros elementos complementares, numa perspectiva histórica e teológica diferente. Mas se engana quem acredita que I e II Crônicas sejam mera repetição daqueles livros.
Geralmente se atribui o conjunto Crônicas-Esdras-Neemias a um mesmo autor, cujo nome é desconhecido e que é chamado simplesmente o Cronista, o qual escreveu os livros durante ou logo após o cativeiro na Babilônia (por volta do século III a.C.). Essa unidade pode ser percebida na coincidência do final das Crônicas com o começo do livro de Esdras. Esse autor pertence ao grupo dos levitas de Jerusalém e escreve depois da época de Esdras e Neemias, pois ele combina a seu modo as fontes que se referem a eles. Mais tarde recebeu alguns acréscimos. O clero desempenha papel importante na obra: não apenas os sacerdotes e os levitas, mas também as classes inferiores do clero, tais como, os porteiros e os cantores.
Ainda que os livros de Reis e os livros de Crônicas cubram muito do período da história israelita, os livros das Crônicas enfatizam o reino do sul (Judá) e, geralmente, apenas mencionam o reino do norte (Israel) ao descrever o modo como interagia com Judá, idealizando Davi e Salomão, que são apresentados como monarcas exemplares, não levando muito em conta suas fraquezas.
Os livros de Crônicas são pouco conhecidos e pouco utilizados na liturgia e em outros momentos. São formados por listas maçantes e longas de genealogias e por coleções de sermões. Por isso, não são muito atraentes, mas fazem parte de nossa Bíblia.
Podemos resumir os livros das Crônicas nos grandes blocos:
São desses livros as passagens: a oração de Jabes (1Cr 4,10); Davi derrama a água do poço de Belém (1Cr 11,17-19); o salmo de Davi (1Cr 16,7-36); a descrição do coro e da orquestra de Davi (1Cr 25); a última bênção e oração de Davi (1 Cr 29,10-19); a oração de Salomão suplicando sabedoria (2Cr 1); e a dedicação do Templo (2Cr 6-7).
Os dois livros de Crônicas foram prezados tanto pelos judeus como pelos cristãos através das eras. São Jerônimo, tradutor da Bíblia, tinha um conceito tão elevado sobre I e II Crônicas que os considerou um “resumo do Velho Testamento” e afirmou que “são tão momentosos e importantes que, quem julga estar familiarizado com os escritos sagrados, e não os conhece, apenas engana a si mesmo”.
#saosebastiaojau
• Leia outros textos