Os livros de Samuel relatam a época de transição do período dos juízes (teocracia) para o dos reis (monarquia), e o estabelecimento desta (entre 1040 e 971 aC). A história começa nos dias finais dos Juízes e nos deixa com o velho Davi firmemente entronizado como rei de Israel e de Judá.
Desde seu surgimento, Israel estava organizado em tribos nômades, coordenadas pelos Juízes, mas sem um governo centralizado. Com o tempo, Israel passou a desejar ter um rei, como os países vizinhos (1Sm 8). No princípio, o povo não entendeu bem o que isso queria dizer, pois Deus era considerado o verdadeiro rei de Israel. Mas, em resposta ao pedido de Seu povo, o próprio Deus escolheu um rei para eles. Tanto o rei como o povo viviam debaixo da autoridade e do julgamento de Deus (1Sm 2,7-10). Entretanto, não demorou para que os mais ambiciosos se interessassem em tirar vantagens do poder, mostrando o que significa dominar. Essa mudança na vida nacional de Israel gira principalmente em torno de três nomes: Samuel, Saul e Davi. Samuel foi o último dos Juízes e o primeiro dos Profetas; Saul foi o primeiro rei de Israel; e Davi, o segundo.
Homem de profunda piedade e discernimento espiritual, Samuel dedicava-se totalmente à realização dos propósitos de Deus para o bem de Israel. Embora não descendesse da linha genealógica de Arão, sucedeu a Eli no cargo sacerdotal. Ao que parece, foi o primeiro a estabelecer uma instituição para o preparo dos jovens que desejavam abraçar a vocação profética. Viu-se na contingência de guiar Israel em algumas das mais profundas crises de sua história; no desempenho de suas funções, quase alcança a estatura de Moisés. Embora não tivesse ambições pessoais, achou-se no papel de "fazedor de reis", comissionado para ungir a Saul, o primeiro rei, e a Davi, o maior dos reis de Israel.
Saul, o monarca, é um personagem enigmático. Era homem de extraordinária coragem, contudo lhe faltava a perseverança, ingrediente essencial para a grandeza. A inconstância de seu temperamento empanou todas as suas relações pessoais e um medo mórbido de que surgissem possíveis rivais embargou-lhe a mente e afetou seu raciocínio. De origem humilde, foi chamado a desempenhar a função mais elevada da nação. Finalmente, sem haver alcançado o êxito que lhe desse direito de ser sepultado em um túmulo real, seus ossos foram devolvidos à sua terra de origem.
Seu sucessor, Davi, tem sua história como tema do Segundo Livro de Samuel. Davi foi rei primeiro de Judá, no Sul (caps. 1-4). Depois, ele foi rei de toda a nação, incluindo Israel, no Norte (caps. 5-24). O segundo livro de Samuel narra as lutas de Davi contra os inimigos de dentro e de fora, para se firmar no poder e para estender o seu reino. Davi era homem de profunda fé e devoção a Deus e, como líder, foi capaz de conquistar a lealdade do seu povo. Mas ele também cometeu pecados de crueldade e violência, que a Bíblia não esconde. Porém, quando Natã, o profeta, apontou a Davi os seus pecados, ele os confessou e aceitou o castigo de Deus. A vida e as realizações de Davi impressionaram profundamente o povo de Israel. Tanto assim que, mais tarde, nos tempos de angústia, quando precisavam de outro rei, eles pediam "um filho de Davi". Desejavam um rei descendente de Davi, que fosse igual a ele.
São desses livros algumas passagens bastante conhecidas, como a chamada de Samuel (1Sm 3), a escolha de Davi para rei de Israel (1Sm 16), a vitória de Davi sobre o gigante Golias (1Sm 17), a transferência da Arca da Aliança (2Sm 6) e a profecia de Natã (2Sm 7).
Embora, de maneira geral, considere-se desconhecido o autor de I e II Samuel, alguns acreditam que eles tenham sido escritos por Samuel em coautoria com Natã e Gade.
Da leitura desses livros – bem como da dos outros livros históricos do Antigo Testamento – aprendemos que a fé em Deus traz bênçãos, enquanto que a desobediência leva à desgraça. Essa verdade foi dita pelo próprio Deus ao sacerdote Eli: "Respeitarei os que me respeitam, mas desprezarei os que me desprezam" (1Sm 2,30).
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