Dando continuidade ao livro de Josué e pertencendo, como ele, ao grupo dos "Primeiros Profetas", o livro dos Juízes nos dá um resumo da vida das tribos durante um dos períodos mais obscuros da história do povo de Israel, aquele que se segue à conquista e precede o aparecimento da instituição da monarquia. O livro descreve uma série de quedas do povo de Deus na idolatria, seguidas por invasões da Terra Prometida e servidões a seus inimigos: enquanto a época de Josué era de fidelidade, a dos Juízes nos é apresentada como a da infidelidade.
Josué, ao morrer, não deixou sucessor. As doze tribos de Israel já estavam estabelecidas na terra prometida, mas não tinham um governo central; eram unidas, entretanto, pela religião monoteísta (um só Deus), diferentemente dos outros povos de Canaã que tinham muitos deuses. Israel convivia com esses povos pagãos e muitas vezes caiu na idolatria. Nesse contexto, Deus suscitou os Juízes em Israel, que eram os líderes das tribos. Os maiores eram os líderes militares e os menores tinham a função permanente de administrar a justiça, resolvendo questões legais do povo. Eram heróis, muitas vezes dotados de força física ou carismas especiais para libertarem uma ou mais tribos de Israel dominadas pelos estrangeiros. Não tinham sucessores nem dinastia, não promulgavam leis e nem impunham impostos. São o testemunho vivo de que Javé jamais abandonou o seu povo.
Entre os grandes juízes encontramos Eli e Samuel, que foram os únicos que tiveram autoridade sobre todo o Israel, embora não tenham sido chefes de exércitos como os outros. Ao todo foram doze juízes. Os maiores foram Otoniel (da tribo de Judá), Aod (tribo de Benjamim), Barac (tribo de Neftali), Gedeão (tribo de Manasses), Jefté (tribo de Gad), Sansão (tribo de Dã). Os menores são Samgar (tribo de Simeão), Tolá (tribo de Issacar), Jair (tribo de Galaad), Abesã (tribo de Aser), Elon (tribo de Zabulon) e Abdon (tribo de Efraim). Os 21 capítulos de Juízes cobrem um período de quase 200 anos, que vai de 1250 a 1050, desde a morte de Josué até o primeiro rei de Israel, Saul.
Duas ações devem estar relacionadas à figura dos Juízes: julgar e salvar. Ao longo do livro, percebe-se uma perspectiva teológica que se caracteriza por uma série de fórmulas estereotipadas. Dessas fórmulas se depreende uma lógica religiosa de quatro termos: o pecado acarreta o castigo, mas o arrependimento do povo conduz ao envio de um salvador (salvação).
O autor desse livro é desconhecido, embora a tradição atribua sua autoria a Samuel e alguns acreditem que tenha sido redigido pelos deuteronomistas. A multiplicidade de introduções, as diferentes explicações dadas para o retardamento da conquista, a vontade de atingir o número de doze Juízes, segundo o número das tribos, indicam uma redação escalonada ao longo do tempo.
É certo que os heróis do livro dos Juízes estão enraizados num tempo em que os costumes eram rudes e as ideias morais não correspondiam às nossas. A astúcia de um Aod, o assassinato de Sísara por Jael, o sacrifício da filha de Jefté, os amores de Sansão podem nos chocar, mas, através desses relatos, que não procuram adocicar a realidade, é necessário aprender a descobrir a ação de Deus, que conduz um povo dando-lhe chefes animados pelo Espírito. Esses homens prefiguravam o rei que devia receber o Espírito do Senhor para dirigir o povo com justiça, e o próprio rei era o presságio do Messias, sobre quem repousaria o Espírito de múltiplos dons.
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