Provavelmente todos nós já ouvimos falar em indulgências. No entanto, nem sempre entendemos o significado e, consequentemente, o grande benefício que elas nos trazem. Temos uma imensa riqueza e nem sempre aproveitamos!
Por definição, indulgência é a remissão diante de Deus da pena devida aos pecados, cuja culpa já foi perdoada. Cada vez que alguém se arrepende e se confessa, é perdoada a culpa dos pecados cometidos, mas não a pena. Por exemplo, se alguém mata uma pessoa e se arrepende, depois pede perdão e procura o sacramento da Penitência, receberá o perdão. Contudo, como apagar o mal cometido que tirou a vida de alguém? Por isso permanece uma pena após o perdão. Essa situação pode ter um indulto, uma indulgência, que a Igreja oferece em certas condições especiais e quando o fiel está bem disposto a buscar a santidade de vida, aproximando-se cada vez mais de Deus. A Igreja pode oferecer a indulgência pelos méritos de Cristo, de Maria e dos santos que sempre participam da obra da salvação. Sobre isso, escreveu o Papa Francisco: “No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanecem. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do que isso. Ela se torna indulgência do Pai que, através da Esposa de Cristo, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado” (Misericordiae Vultus, 22).
Padre Paulo Ricardo define a indulgência de forma clara: “Para que as pessoas entendam o que é indulgência, é necessário entender antes o que é pena temporal. Quando vamos nos confessar, o sacerdote perdoa a pena eterna. Por causa dos nossos pecados, nós merecemos o inferno; então, o sacerdote perdoa os nossos pecados e, com isso, nós seremos salvos. Mas, ao mesmo tempo, o pecado tornou o nosso coração pior: nosso coração não está pronto para entrar no céu. Se eu me confessar e morrer imediatamente após a confissão, eu estou salvo, mas não estou santo, porque ainda não amo a Deus de todo o coração, de toda a alma e todo o entendimento. Então, a pessoa que morre nessa situação vai para o purgatório e, ali, purifica-se. A indulgência é a remissão desse ‘tempo’ do purgatório. A absolvição sacramental livra a pessoa do inferno e a indulgência livra a pessoa do purgatório”.
Em resumo: o sacramento da Confissão nos torna salvos e nos livra do inferno (pena eterna); a indulgência nos torna santos e nos livra do purgatório (pena temporal).
Origem
No início do Cristianismo, quando as pessoas iam recorrer ao sacramento da Reconciliação, as coisas eram muito diferentes do que são hoje. Atualmente, nós vamos ao padre, ele nos dá o perdão dos pecados e passa uma penitência para cumprirmos depois da confissão. Naquela época, o fiel confessava os seus pecados, o padre passava a penitência e, então, a pessoa ficava cumprindo aquela penitência durante vários meses e, às vezes, longos anos para que, finalmente, fosse perdoada.
Acontece que, naquela época, havia a perseguição da Igreja e também havia vários mártires. Então, os cristãos que estavam aprisionados e condenados à morte pelos perseguidores do Império Romano, muitas vezes, escreviam cartas aos bispos dizendo: "Senhor Bispo, eu vou morrer e a minha morte será uma penitência. Use esta minha penitência para remir as penas, para perdoar a penitência de outra pessoa".
Eram mártires que se ofereciam para cumprir penitência no lugar daquelas pessoas. A origem da indulgência consiste nisso: sabermos que somos um só corpo. E sendo um só corpo enquanto Igreja, a penitência, o martírio de alguns, pode servir para compensar a penitência de outros. Na verdade, essa história de amor está na raiz do surgimento das indulgências.
Outra forma de se obter indulgência em tempos passados era o cristão viajar meses até a cidade de Jerusalém, na Palestina, ou até um Santuário dedicado a algum SANTO. Eles faziam essa penitência para pagar por pecados graves que tinham cometido. Com o correr do tempo, a Igreja abrandou e facilitou a penitência.
Podemos comparar a indulgência a um Banco, onde há um rico depósito de milhões. Essa riqueza são os méritos dos santos. A Igreja oferece esse tesouro a todos os cristãos, para pagar por seus pecados e dos falecidos. As condições para se ganhar a indulgência são sempre as mesmas: confissão dos pecados, comunhão, algumas orações (Credo, Pai-Nosso, Ave-Maria, oração pelo Papa). A confissão e comunhão podem ser as que se costuma fazer no mês.
Tipos e Como se Beneficiar
A indulgência pode ser parcial (absolvição parcial das penas temporais) ou plenária (absolvição plena, total das penas temporais).
Caso deseje, em vez de aplicar a si mesma, a pessoa tem a opção de aplicar a indulgência que adquirir a uma pessoa falecida – mas nunca em benefício de alguém vivo. Algumas indulgências só podem aplicar-se aos defuntos: por exemplo, rezando por eles num cemitério consegue-se uma indulgência parcial, que será plenária se essa oração for feita dos dias 1º a 8 de novembro (uma em cada dia).
Para que alguém seja capaz de adquirir as indulgências, requer-se que seja batizado, não esteja excomungado, esteja em estado de graça (isto é, num estado de amizade com Deus em que não apenas recebeu o perdão dos pecados, mas também está disposta a abandonar qualquer tipo de pecado, até mesmo o venial) pelo menos no final das obras prescritas e seja súdito do que tem autoridade para concedê-las (isto é, reconheça a autoridade e obedeça ao Sumo Pontífice e à Igreja Católica Apostólica Romana). Não compete a qualquer um estabelecer as condições da indulgência. Isso é atribuição da Igreja e do Papa. Ou seja, o fiel deve estar disposto a obedecer a determinadas condições mediante a intervenção da Igreja, a qual, como ministra da redenção, dispensa e aplica com autoridade o tesouro das expiações conquistadas por Cristo e pelos santos.
Indulgência Plenária
As indulgências plenárias têm um valor muito grande e, por isso, requerem várias condições e podem ser obtidas apenas uma por dia:
- realizar a ação que a Igreja contempla com essa indulgência.
- estar na graça de Deus antes de terminar a obra contemplada.
- ter intenção, pelo menos geral, de ganhar a indulgência.
Qualquer dia é bom para se obter uma indulgência plenária praticando-se as seguintes ações:
Além disso, pode-se obter indulgências plenárias em circunstâncias especiais, tais como:
Há também vários dias no ano em que se podem ganhar indulgência plenárias, com certas condições. Por exemplo:
- Quinta-feira Santa: recitando o "Tantum ergo" durante a exposição que se segue à Missa.
- Sexta-feira Santa: assistindo às Cerimônias.
- Sábado Santo: renovando as promessas batismais na Vigília Pascal.
Há, ainda, a possibilidade de se obter indulgências plenárias particulares. Muitas instituições gozam de indulgências em determinados dias do ano, coincidindo normalmente com datas ou santos próprios, como é o caso dos membros do Apostolado da Oração ou daqueles que usam o escapulário do Carmo se unindo à família carmelita.
Indulgência Parcial
As indulgências parciais proporcionam uma remissão da pena no mesmo valor que tem a ação praticada. Ou seja: nas indulgências parciais, a Igreja duplica o mérito dessas ações e várias delas podem ser obtidas todos os dias cumprindo-se apenas três condições: estar na graça de Deus, fazer o que a Igreja indica para ganhar essa indulgência e ter intenção de ganhar a indulgência. As três condições podem cumprir-se em vários dias, antes ou depois da execução da obra prescrita; convém, contudo, que tal comunhão e tal oração se pratiquem no próprio dia da obra prescrita. Além disso, é preciso que se elimine qualquer afeto ao pecado, ainda que seja venial.
Sendo assim, as pessoas doentes ou impossibilitadas de saírem de casa também podem lucrar a indulgência, onde estiverem, fazendo algum ato de piedade, algumas orações à sua escolha.
Pode-se obter indulgência parcial com as seguintes ações:
Além disso, quando falta algum requisito a uma indulgência plenária, costuma-se ganhar uma indulgência parcial.
Aprofundamento
A Igreja, sobretudo no Catecismo da Igreja Católica, orienta os fiéis sobre o dom da indulgência, conforme os parágrafos 1471 a 1479, 1498, 1032.
Além disso, há muitos sites onde se pode pesquisar sobre isso na Internet.
Então, vamos aproveitar essas oportunidades e divulgar entre nossos familiares e amigos. Afinal, as indulgências são uma bela oportunidade que Cristo nos oferece através da Igreja! Não desprezemos a graça de Deus!
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