Primeira Leitura: Nm 21,4b-9
Salmo Responsório: Sl 77
Segunda Leitura: Fl 2,6-11
Evangelho: Jo 3,13-17
Irmãos, hoje somos convidados, nesta Celebração Eucarística, a olhar para a Cruz, que é, para nós, cristãos, a árvore da vida. Dela vem a Ressurreição e é o que ouvimos no Evangelho: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna (…)”. Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. A Cruz é sinal de salvação e não sinal de escândalo ou de loucura.
E, do mesmo modo como Moisés levantou a serpente de bronze no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que, todos os que Nele crerem tenham a vida eterna (Cf. Jo 3,13-17 e Nm 21,4b-9).
Frente aos desafios de crescer em liberdade, o povo preferiu as amarras da escravidão, que, aparentemente, lhes dava segurança (alimento), quando estava no Egito. As serpentes que atacam o povo – simbolizando o poder opressor – mostram que a rejeição à proposta divina torna-se fonte de morte. O arrependimento provoca o abandono da arrogância e faz o povo reconhecer Deus como a fonte única de liberdade e vida. Dessa forma, a imagem da serpente de bronze levantada não tem valor em si mesma. Mas, colocada na vida de todos, provoca a consciência da rejeição a Deus, tornando-se convite permanente à conversão.
A cruz, ao mesmo tempo em que revela a atrocidade do pecado, exalta a misericórdia de Deus, que é solidário com a dor e o sofrimento do povo.
Deus nos ama; por isso nos corrige, atraindo-nos para perto Dele; é a figura do novo Moisés o Cristo.
Temos, de um lado, o povo opondo-se à vontade de Deus e, de outro, o amor incondicional e gratuito salvando-nos através do sangue na Cruz. Permitamo-nos ser amados por Ele!
Na Internet, há um vídeo que questiona o que Jesus ganhou ao derramar Seu sangue na cruz, já que a humanidade continua se matando, se odiando… Porém, sabemos que valeu e vale a pena, sim!
Gostaria, agora, de olhar para a nossa cruz, que está no altar, alegoria do Caminho Neo-catecumenal, que retrata, simbolicamente, a história da salvação operada por Cristo Jesus. Essa cruz foi desenhada por Kiko Arguello - pintor espanhol e um dos iniciadores fundadores do Caminho Neo-catecumenal na Igreja - e representa:
São símbolos extraídos da glória de Deus (Cf. Ez 1,10).
O profeta via a glória sobre um carro (Merkabah), o qual tinha quatro rodas imensas que iam da Terra ao Céu. E, em cada roda, havia uma figura: a de um anjo, a de um leão, a de um boi e a de uma águia. Tais rodas representam os quatro evangelistas, cujas verdades são acessíveis às pessoas mais simples (ao nível da Terra), ao mesmo tempo que, girando essas rodas, alcançam o alto dos céus, isto é, podem ser entendidas em sentido muito elevado e espiritual, pelos mais excelsos teólogos. A verdade evangélica, assim, é acessível a todos: alimenta os nobres e mata a sede dos pobres.
São Mateus é simbolizado pela figura de um anjo com rosto de homem, porque o seu Evangelho se preocupa em provar a natureza humana de Cristo. Por outro lado, São João (representado pela águia) se preocupa em provar a natureza divina de Cristo, ou seja, Cristo é verdadeiro Homem e verdadeiro Deus; lembra-nos também a geração do Verbo que se fez carne, alçando-se desde o começo a alturas divinas, como a águia que se eleva em seu voo. Já São Marcos é representado por um leão, porque começa o seu Evangelho falando da pregação de João Batista no deserto, na Judeia; o leão vivia no deserto e a pregação de João foi como um rugido de leão; por outro lado, o leão é o rei dos animais e São Marcos quer mostrar Cristo como soberano, como rei. São Lucas (representado pelo boi) tem em vista o caráter sacerdotal de Cristo; o boi nos lembra o sacrifício no Templo, ou seja, era um animal sacrificado no templo em Jerusalém, e Jesus é o Cordeiro imolado e sacrificado por excelência.
Para um maior aprofundamento, sugerimos consultar os livros de Patrística, dos Padres da Igreja, bem como as seguintes obras: Comentando os Evangelhos, Catena Aurea (de São Tomás de Aquino), as obras de São Gregório Magno, de São Bernardo, de Santo Hilário, dos doutores e Padres Orientais, sobretudo de São Gregório Nazianzeno, e os comentários de Hugo de São Victor sobre os Evangelhos.
Irmãos, que, através da nossa adesão a Deus, Cristo seja exaltado e venerado!
A Ele toda a glória e o louvor para sempre!
Amém!
Cônego Alexandre Donizeti Francisco, Opraem
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