Muitas pessoas presenciaram curiosas a crucifixão de Cristo no alto do Calvário. São muitos os que assistiam atónitos ao suplício de um homem inocente. Mas são poucos os que ficaram aos pés da cruz: a mãe de Jesus, a irmã de Maria de Nazaré – Maria de Cléofas –, Maria de Magdala e, conforme nos assegura mais à frente o evangelista, também o discípulo amado de Jesus. Um pequeno grupo de pessoas. Somente um pequeno grupo de fidelíssimos tem a coragem de não fugir e testemunhar a própria fé Nele. Somente poucos audazes, juntamente com Maria, têm a coragem de suportar com Cristo a dor e o sofrimento por uma morte injusta.
Hoje, dia 15 de setembro, na Festa de Nossa Senhora das Dores, somos chamados a contemplar Jesus no maior gesto de obediência da sua história. Somos convidados a olhar para Cristo e o mistério da nossa salvação, através do olhar da Mãe.
Contemplar esse drama na vida da família de Nazaré, o último evento que Maria vive com o Filho, é quase entrar nos sentimentos de uma mãe com um filho… um olhar; uma palavra; um silêncio; um estar em pé, fixo, diante de eventos chocantes… E, no fim, repetir, ainda que de modo tácito, a própria adesão a um Projeto maior: a Salvação da Humanidade.
Não é talvez este o momento em que Maria reassume de maneira extraordinária todos os “sim” que vinha pronunciando desde a Anunciação? Dos sim ditos explicitamente; dos sim ditos sussurrando; dos sim escondidos na contemplação e na meditação de tantos eventos racionalmente não compreensíveis… No entanto, Maria, diante de todas essas coisas, nunca colocou resistência. Procurou sempre a vontade de Deus!
Estar aos pés da cruz, para Maria, tornou-se somente um aperfeiçoamento de um itinerário, de um caminho, de um discipulado. Tornou-se um ir reescrevendo a história com os olhos de Deus – história de uma mulher que soube estar constantemente à procura… fez constantemente memória das promessas de Deus, ensinando-nos a não nos deixar abater mesmo diante dos tempos difíceis, mesmo quando o sofrimento é agudo, mesmo quando seria mais fácil abandonar-nos ao desconforto, ao abatimento, à desolação, à derrota…
É exatamente nestes momentos que a fé que Maria viveu – e que hoje nos é proposta – que se revela a fé daquela que sabe que “Deus é maior que o nosso coração”.
Dessa maneira, Maria nos apresenta o seu ser nova criatura. Somente quem se deixa permear pela Palavra de Deus, pelo encontro com o Senhor Jesus; somente quem tem a coragem de abrir diante de si e dos irmãos estradas novas para encontrar Jesus, e, portanto, a salvação, tem também a coragem, a audácia, a força que vem do Espírito de permanecer parado, com dignidade, com responsabilidade, diante de cada evento, inclusive o mais doloroso, para dizer que Jesus venceu a Morte – e as mortes de toda espécie!
Estar face e face com Jesus, para Maria, tornou-se um olhar e contemplar a impotência do homem… Também Maria diante da cruz de Cristo era impotente. Mas é diante dessa impotência que se manifesta a grandeza de Deus.
O estar aos pés da cruz de Maria nos encoraja a não fugir e a repetir – não com palavras, mas com a vida – as palavras do Apóstolo Paulo: “completo no meu corpo o que falta aos sofrimentos de Cristo”. Ensina-nos a permanecer aos pés das tantas cruzes, pequenas e grandes, que encontramos na nossa vida quotidiana. Somente assim evitaremos o risco de nos fecharmos no nosso egoísmo, na procura do nosso sucesso pessoal, e nos abre ao mundo com olhos novos porque homens novos.
Aos pés da cruz, Maria foi confiada a João, o discípulo amado, e, nele, a toda humanidade, como um bem precioso, como um dom espiritual, como aquela que soube caminhar por vias difíceis, mas belas do discipulado.
É nossa obrigação acolhê-la para aprender dela como caminhar atrás de Jesus, como estar aos pés das infinitas cruzes ainda disseminadas nos nossos caminhos, como aprender a repetir aquele fiel SIM da vida que nos faz capazes de repetir “não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”.
Fonte: https://poco-da-palavra.blogspot.com/2010/09/aos-pes-da-cruz.html (adaptado)
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